Armazém da Sociobiodiversidade mostra a força dos produtos da floresta no Espaço Chico Mendes e Fundação BB na COP30

Com sistema rotativo e representantes de todos os biomas, espaço provou que é possível gerar renda e garantir vida digna sem desmatamento, contrapondo o modelo tradicional do agronegócio.

Feira ficou aberta todos os dias de Espaço. Foto: Sarah Soares/Comitê Chico Mendes

O espaço compartilhado entre o Comitê Chico Mendes e a Fundação Banco do Brasil, durante a COP30, tornou-se o epicentro de uma discussão prática e urgente: a viabilidade econômica da floresta em pé. O Armazém da Sociobiodiversidade não funcionou apenas como uma vitrine de produtos, mas como a prova material de que a bioeconomia é capaz de sustentar comunidades inteiras em harmonia com a natureza. Para Khelven Castro, Coordenador de Projeto de Sociobiodiversidade do Comitê Chico Mendes, a iniciativa surgiu da necessidade de disputar o imaginário econômico atual.

"A gente acredita que a floresta pode, sim, subsidiar uma vida justa sem precisar destruir, vivendo de forma horizontal entre humano e natureza", explica.

Segundo Castro, o objetivo central do Armazém foi "criar uma nova narrativa" que desafie a lógica de que o lucro depende da derrubada da mata ou de modelos intensivos de agronegócio, durante os dias 8 e 21 de novembro.

"Nós mostramos negócios florestais sustentáveis que funcionam, de pessoas que vivem dentro da floresta em harmonia", completa.

Giro pelos biomas do Brasil

A logística do Armazém foi pensada para garantir representatividade e impacto. O espaço abrigou cerca de 60 empreendimentos in loco, conectados a uma rede maior de 600 negócios que abrangem todos os biomas brasileiros — da Amazônia ao Pampa, passando pelo Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal.

Para dar vazão a essa diversidade, o Comitê implementou um sistema rotativo: a cada três dias, os expositores mudavam, garantindo que o público da conferência tivesse acesso constante a novos produtos e histórias. Mais do que o conceito, o Armazém apresentou a prática de uma economia ecológica, livre de agrotóxicos e baseada no manejo sustentável. Khelven Castro destaca dois exemplos que ilustram essa cadeia produtiva justa: Na Amazônia, o Ateliê da Floresta chamou a atenção com biojoias e artefatos produzidos exclusivamente com madeiras licenciadas já caídas.

"Nenhuma árvore precisou ser derrubada ou tirada. A galera reaproveita aquele material que já estava no chão, criando colares, brincos ou utensílios como gamelas", detalha o coordenador.

Já a integração nacional foi representada pela Justa Trama. Embora sediada no Sul, a cooperativa exemplifica a conexão entre regiões: as peças de roupa utilizam algodão orgânico plantado por associações de mulheres no Nordeste e botões de madeira produzidos em Rondônia, no Norte.

"Todo o tecido é costurado pelas mulheres de forma sustentável, unindo o Brasil em uma cadeia justa", afirma Castro.

Renda e dignidade

O legado do Armazém na COP30 foi reforçar que a preservação ambiental não é inimiga do desenvolvimento financeiro das comunidades tradicionais. Pelo contrário, a feira circular fomentou a economia local, fazendo o dinheiro circular entre quem protege o território.

"A gente não é contra as pessoas terem dinheiro para sobreviver. Inclusive, queremos que tenham, pois, para viver na floresta, elas precisam comer e gerar renda", ressalta Khelven. "O que estamos provando é que é possível ter tudo isso de maneira justa, sem o pensamento cruel da destruição."

Anterior
Anterior

"Balanço das Águas": Arte e resistência ocupam o Parque da Maternidade neste sábado

Próximo
Próximo

O que você escreveria para ele? Segunda edição de "Uma Carta para Chico" reconecta juventude de Xapuri ao legado da floresta