"A resposta somos nós": juventudes das águas e florestas ecoam legado de Chico Mendes e exigem voz na COP30
Organizado pelo Comitê Chico Mendes e CNS, o "Encontro das Juventudes" reuniu jovens ativistas em Belém
Jovens da floresta responderam o que querem para essa COP. Foto: Rebeca Vilhena
Belém, sede da COP30, tornou-se o epicentro não apenas das negociações climáticas oficiais, mas da intensa mobilização popular. Em um espaço de escuta e protagonismo, o "Encontro das Juventudes" reuniu jovens de diferentes territórios do Brasil e do mundo para refletir, criar e propor ações diante da crise climática, neste sábado (08).
Organizado pelos jovens do Comitê Chico Mendes e do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), a programação foi desenhada para o diálogo direto, começando com a dinâmica “No que você pensa quando eu digo COP30 e mudanças climáticas?”, convidando à troca honesta de percepções.
O ponto alto concentrou-se na mesa “Juventudes das águas e das florestas e a cop30: caminhos pra justiça climática”, que uniu lideranças jovens e parceiros institucionais para discutir como as lutas territoriais podem, e devem, influenciar as decisões globais.
A "COP Paralela" dos povos
A urgência desse protagonismo é personificada na figura de Darlon Neres, jovem ativista ambiental de Santarém (PA). Darlon lidera o coletivo Guardiões do Bem Viver e foi vencedor do prêmio “Chico Vive” deste ano, pelo bioma Amazônia, mobilizando juventudes na defesa do território e de modos de vida tradicionais, e está à frente de campanhas como o reconhecimento do Rio Arapiuns como sujeito de direitos.Para ele, o encontro é uma necessidade estratégica contra a exclusão.
Carta ao Jovem do Futuro foi lida durante o encontro. Foto: Rebeca Vilhena
“Estar aqui no espaço das populações extrativistas, dos povos indígenas, o espaço do Comitê [Chico Mendes] traz esse momento muito importante”, afirma Darlon. “Porque os espaços oficiais da COP, eles não são espaços onde nós podemos acessar diretamente. Então a gente está negando estar nesses espaços. E esse espaço ele traz uma nova forma inclusive de mostrar ao mundo como a sociedade civil, como os povos e floresta, eles conseguem fazer uma articulação de fazer uma COP paralela a COP oficial.”
A juventude não vem a Belém apenas para denunciar, mas para anunciar as soluções que já existem nos territórios, segundo o entrevistado.
“A gente vai estar aqui no espaço, mas também a gente vai estar em outros espaços trazendo a seguinte mensagem: Os direitos da natureza como a solução para a crise e para esse colapso climático”, detalha o ativista. “Também temos essa pauta de dizer: A resposta somos nós. A floresta tem a resposta ao colapso climático. Então, nos próximos dias, a gente quer mostrar que a resposta vem dos territórios amazônicos.”
Lutar pela vida ainda custa a vida
Essa resposta vinda dos territórios, no entanto, tem um custo. A luta pela Amazônia, hoje como há 40 anos, continua sendo uma luta pela vida. Darlon Neres, assim como Chico Mendes em seu tempo, vive sob ameaça e está incluído no programa de defensores e defensoras de direitos humanos do estado do Pará.
Sua fala expõe a trágica e inaceitável continuidade da violência contra quem defende a floresta.
“O Brasil é um dos países, né, aonde mais mata ativistas e ambientalista, eh, do mundo. E a gente vê esse significado, eh, do que foi também, né, o assassinato do Chico”, reflete Darlon.
A proteção oferecida pelo Estado, segundo o jovem, é um paradoxo que aprisiona.
“No próprio território, ah, todos os dias eu sou acompanhado por policiamento (...) E eu perco um pouco da liberdade. Na verdade, eu perco toda a liberdade que eu tinha no próprio território. Porque a gente precisa ficar atento a qualquer momento.”
Juventude se reuniu na manhã deste sábado. Foto: Alexandre Noronha/Comitê Chico Mendes
A desconfiança é um fantasma que remete diretamente ao assassinato de Chico Mendes, que também estava sob proteção oficial quando foi morto em 1988.
“Quando o Chico foi assassinado, ele também tava dentro de um programa de de proteção. E o Estado, ao mesmo tempo que te protege, ao mesmo tempo te faz te sentir medo. Porque muita das vezes, esses policiais, essas pessoas que te acompanham, não são confiáveis.”
Apesar do medo e da criminalização, o que prevalece no Encontro das Juventudes é a determinação. A luta de Darlon é a continuação direta da luta de Chico: um legado que se recusa a morrer e que hoje exige justiça climática.
“Então, o Chico, ele foi uma semente plantada. E se eu não tiver mais amanhã aqui, eu também tô plantando semente que vai germinar e esse legado tem que continuar”, conclui Darlon. “Mas é muito difícil fazer luta na Amazônia (...). A gente não quer mais isso para a Amazônia, a gente quer viver livre e estar aqui eh fazendo isso também, eh dizendo que a qualquer momento a gente não pode mais estar aqui, mas a gente quer seguir plantando e continuando o legado do Chico.”