Policy Brief sobre populações extrativistas é lançado de forma física no Espaço Chico Mendes na COP30

Apresentação no Espaço do Comitê, durante a COP30, reafirma a potência da pesquisa feita no território como ferramenta de luta e inspiração

Documento já tinha uma edição on-line disponível. Foto: Alexandre Noronha

O Comitê Chico Mendes e o Coletivo Varadouro lançam a edição física do Policy Brief “Populações Extrativistas da Amazônia e sua Importância nas Negociações da COP30”, neste sábado (08), no Espaço Chico Mendes e Fundação BB na COP30. O documento apresenta evidências e recomendações para que negociadores, tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas reconheçam as populações extrativistas como atores centrais na agenda climática.

A pesquisa foi coordenada por Gleiciane de Oliveira Pismel, do Comitê Chico Mendes e da Universidade de Brasília (UnB), e ouviu 180 moradores das cinco Reservas Extrativistas (RESEX) do Acre. Para Kailane, a apresentação superou as expectativas, transformando-se em um ponto de conexão e fortalecimento. 

"Considero uma oportunidade muito relevante, especialmente para aqueles que acompanharam a apresentação, que estiveram presentes no espaço", avalia.

O diferencial, segundo ela, foi a capacidade do público de se enxergar nas pautas apresentadas. A luta local encontrou eco em outras vivências amazônicas e globais. 

"Perceberam a importância do tema, as semelhanças com outras realidades e os desafios enfrentados, como a realização de pesquisas em seus próprios territórios. Acredito que a apresentação abriu uma nova perspectiva para o público."

O documento é resultado de um trabalho realizado entre julho e agosto nas cinco Reservas Extrativistas do Acre, dentro do projeto Varadores na COP30, apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade e pelo Fundo Casa Socioambiental.

“A pesquisa foi o eixo central do projeto, mas também teve uma frente de formação das juventudes extrativistas sobre o que é a COP30”, explica Pismel. “O objetivo era gerar uma publicação com recomendações baseadas em evidências — um Policy Brief — para orientar políticas públicas voltadas às populações extrativistas.”

De acordo com a coordenadora da pesquisa, o estudo foi conduzido por 11 jovens extrativistas e ouviu 180 moradores e moradoras das reservas. Ela coordenou todas as etapas, desde a elaboração do questionário até a análise dos dados e a redação final. 

“A pesquisa buscou entender, a partir da perspectiva dos próprios moradores, como a crise do clima vem afetando o cotidiano nas reservas e quais soluções eles enxergam para enfrentar essa realidade”, conta.

Sobre o Policy Breaf

Os dados revelam a intensidade dos impactos climáticos nas RESEX: 95% dos entrevistados relatam sentir fortemente os efeitos da crise, como calor extremo (60,5%) e secas prolongadas (52%). Apesar das dificuldades, 82% nunca cogitaram deixar seus territórios, reafirmando o papel das RESEX como barreiras contra o desmatamento. Para os extrativistas, a principal causa da crise climática é o desmatamento (57%). Como alerta da pesquisa: “A morte da floresta é o fim da nossa vida”.

Além de investigar os impactos das mudanças climáticas, o levantamento também incluiu perguntas sobre a percepção das comunidades em relação às conferências do clima. 

“Queríamos saber o que eles entendem por COP e se consideram importante a presença das populações extrativistas nesses espaços, como a COP30”, afirma.

O Policy Brief finaliza com cinco recomendações centrais para a COP30:

  1. Políticas Públicas para a Permanência: Garantir condições de vida digna nas RESEX — saúde, educação, energia e internet — para que as populações continuem protegendo a floresta.

  2. Fortalecer a Participação Internacional: Ampliar a presença e legitimar a voz das populações extrativistas em espaços como a Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP) da ONU.

  3. Fomentar a Sociobioeconomia: Criar ecossistemas de apoio com crédito, investimento e assistência técnica para iniciativas produtivas sustentáveis.

  4. Investir em Formação: Capacitar comunidades técnica e politicamente para participação qualificada nos debates sobre clima.

  5. Agir com Urgência: A inação não é uma opção; os pontos de não retorno da Amazônia ameaçam a existência das RESEX e o equilíbrio climático global.

A esperança é que o lançamento na COP30 seja um catalisador, um ponto de partida para uma nova fase de articulação. A semente plantada em um território específico agora tem o potencial de florescer em muitos outros.

"Espero que amplie o alcance, que sirva de modelo para outros territórios, estados e reservas", projeta Kailane.

A importância de ocupar um espaço como a Conferência do Clima com dados próprios, coletados e analisados pela comunidade, é um ato de soberania. Kailane conclui sua análise celebrando o papel cumprido pelo projeto, que se provou ainda maior do que o esperado.

"A pesquisa, que talvez não previsse a sua importância, agora, com a apresentação e o contato com outros participantes de diferentes estados, demonstra que cumprimos um papel importante, o de compartilhar essa experiência com outras realidades", finaliza.

📄 A íntegra do Policy Brief também está disponível no site do Comitê Chico Mendes:https://www.comitechicomendes.org/policy-brief-cop30

Anterior
Anterior

Armazém da sociodiversidade leva feira que mostra que floresta vale mais em pé no Espaço Chico Mendes na COP30 

Próximo
Próximo

"A resposta somos nós": juventudes das águas e florestas ecoam legado de Chico Mendes e exigem voz na COP30