O que a agenda ambiental escancara: o seu deputado pode não ter um compromisso com você
Cartaz pedindo para que lembremos da Amazônia ao votar. Foto: Hannah Lydia
Apesar das complexidades da pauta ambiental, acompanhá-la é uma ótima forma de assimilar se os seus interesses estão sendo defendidos pelos representantes e pelas representantes que você elege. Isso porque as votações de projetos e o engajamento com essa temática podem revelar, de forma escancarada, os reais interesses dos congressistas.
Se você se preocupa com o preço dos alimentos, quer ter acesso a água limpa sempre que abrir a torneira, quer fazer seus exercícios ao ar livre respirando um ar puro, não quer fritar de calor quando chega o verão… tem que se perguntar: o deputado que você elegeu está trabalhando para garantir esses seus direitos ou apenas a reeleição dele?
A Câmara dos Deputados aprovou na madrugada de quinta, dia 17, o PL da Devastação Ambiental. Esse Projeto de Lei nº 364/2019 propõe a dispensa de autorização para desmatamento em áreas de uso alternativo do solo em imóveis rurais, reduz o papel dos órgãos ambientais estaduais e do Ibama, afrouxa as regras de proteção da vegetação nativa fora da Amazônia Legal, entre outros absurdos.
Se aprovado, o projeto coloca em risco não apenas a proteção das florestas e dos seus defensores, mas também o seu acesso a serviços ambientais essenciais, como a regulação da temperatura urbana, a proteção dos recursos hídricos, o fornecimento de alimentos, a purificação do ar, entre tantos outros. Isso porque só temos acesso a esses elementos tão básicos para a nossa sobrevivência porque ainda existem ecossistemas naturais.
“Não existe uma outra terra”
Estamos vivendo uma emergência climática, e nem o maior bilionário negacionista vai conseguir escapar dos impactos. Agora imagine nós, pessoas comuns, que não temos recursos infinitos para fugir dos efeitos da crise ou nos mudar com a família e os amigos para outro planeta.
Pense no tipo de vida que teremos, nós e as pessoas que amamos, em um mundo onde os efeitos da crise climática já estão em curso. Ondas de calor recordes, a queda na produção de alimentos essenciais e simbólicos da nossa cultura, como o açaí e a castanha, além de enchentes e queimadas devastadoras, não são ameaças futuras. São a realidade do presente.
No ano passado, por exemplo, o Acre passou dias registrando a pior qualidade do ar do mundo por causa das intensas queimadas. A população não conseguia sair de casa sem máscara. Corredores não conseguiam treinar ao ar livre. Nossas casas precisaram passar o dia inteiro fechadas por causa da fuligem e da fumaça. As UPAs e o pronto-socorro de Rio Branco quase colapsaram diante da grande quantidade de pessoas com doenças respiratórias.
Foram dias sem ver o céu, em uma situação crítica, de muito sofrimento, e que pode virar rotina sem o licenciamento ambiental. A verdade que sempre querem nos fazer esquecer é: mesmo quem não vive na floresta depende dela para viver com qualidade de vida.
Amazônia em pauta para 2026
Agora, dependemos do veto do presidente Lula para barrar o PL da Devastação. E, além de pressionar o presidente, a gente quer te fazer um convite: olhe para esse momento lembrando que, no ano que vem, tem eleição, não só para presidente, mas também para as Assembleias Legislativas Estaduais, para a Câmara Federal e o Senado.
É muito importante que estejamos atentos e organizados para eleger e reeleger deputados e senadores que tenham compromisso com o nosso presente e o nosso futuro. Deputados que chegaram ao Congresso com dinheiro do agronegócio, de mineradoras e de grandes empresas vão trabalhar por esses interesses, e você, além de não ganhar nada com isso, só tem a perder.
Vindo de um estado com poucos recursos e pouca vontade política, as emendas parlamentares são sempre foco de muita atenção e celebração. No entanto, o trabalho parlamentar vai muito além de destinar emendas. É nas votações na Câmara que os reais interesses econômicos e sociais se mostram. E quando um deputado vota para flexibilizar leis ambientais, ele está votando para que você, e as pessoas que você ama, fiquem sem acesso à água, tenham a casa invadida por fumaça, lama e enchentes.
Por isso, uma obra realizada com emenda parlamentar, por mais concreta e visível que seja, não pode ser a única moeda de troca pelo seu voto. Muitas vezes, esse tipo de “melhoria” aparece justamente porque o deputado sabe que isso rende voto fácil, e pode ser tudo o que ele está disposto a entregar. Mas o nosso voto precisa valer mais. Ele vale mais!
Votar com atenção à pauta ambiental não é coisa de “bicho grilo”, de vegano ou de quem é contra o desenvolvimento.No cenário atual de crise climática, que, se você parar para observar, já está afetando o seu bolso, sua saúde e sua rotina, a agenda ambiental precisa estar no centro das nossas escolhas em 2026.
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