Comitê Chico Mendes e Coletivo Varadouro lançam Policy Brief sobre populações extrativistas rumo à COP30

O documento é resultado de uma pesquisa conduzida entre julho e agosto nas cinco Reservas Extrativistas do estado

O Policy Brief finaliza com cinco recomendações centrais para a COP30. Foto: Comitê Chico Mendes

O Comitê Chico Mendes e o Coletivo Varadouro lançam o Policy Brief “Populações Extrativistas da Amazônia e sua Importância nas Negociações da COP30”, nesta quinta-feira (29). O documento apresenta evidências e recomendações para que negociadores, tomadores de decisão e formuladores de políticas públicas reconheçam as populações extrativistas como atores centrais na agenda climática.

A pesquisa foi coordenada por Gleiciane de Oliveira Pismel, do Comitê Chico Mendes e da Universidade de Brasília (UnB), e ouviu 180 moradores das cinco Reservas Extrativistas (RESEX) do Acre. Segundo Gleiciane, “a pesquisa buscou dar voz a quem historicamente preserva a floresta e subsidiar negociadores com dados primários sobre os desafios climáticos enfrentados por essas comunidades e as soluções que elas mesmas propõem”.

O documento é resultado de um trabalho realizado entre julho e agosto nas cinco Reservas Extrativistas do Acre, dentro do projeto Varadores na COP30, apoiado pelo Instituto Clima e Sociedade e pelo Fundo Casa Socioambiental.

“A pesquisa foi o eixo central do projeto, mas também teve uma frente de formação das juventudes extrativistas sobre o que é a COP30”, explica Pismel. “O objetivo era gerar uma publicação com recomendações baseadas em evidências — um Policy Brief — para orientar políticas públicas voltadas às populações extrativistas.”

De acordo com a coordenadora da pesquisa, o estudo foi conduzido por 11 jovens extrativistas e ouviu 180 moradores e moradoras das reservas. Ela coordenou todas as etapas, desde a elaboração do questionário até a análise dos dados e a redação final. 

“A pesquisa buscou entender, a partir da perspectiva dos próprios moradores, como a crise do clima vem afetando o cotidiano nas reservas e quais soluções eles enxergam para enfrentar essa realidade”, conta.

Os dados revelam a intensidade dos impactos climáticos nas RESEX: 95% dos entrevistados relatam sentir fortemente os efeitos da crise, como calor extremo (60,5%) e secas prolongadas (52%). Apesar das dificuldades, 82% nunca cogitaram deixar seus territórios, reafirmando o papel das RESEX como barreiras contra o desmatamento. Para os extrativistas, a principal causa da crise climática é o desmatamento (57%). Como alerta da pesquisa: “A morte da floresta é o fim da nossa vida”.

Além de investigar os impactos das mudanças climáticas, o levantamento também incluiu perguntas sobre a percepção das comunidades em relação às conferências do clima. 

“Queríamos saber o que eles entendem por COP e se consideram importante a presença das populações extrativistas nesses espaços, como a COP30”, afirma.

O Policy Brief finaliza com cinco recomendações centrais para a COP30:

  1. Políticas Públicas para a Permanência: Garantir condições de vida digna nas RESEX — saúde, educação, energia e internet — para que as populações continuem protegendo a floresta.

  2. Fortalecer a Participação Internacional: Ampliar a presença e legitimar a voz das populações extrativistas em espaços como a Plataforma de Comunidades Locais e Povos Indígenas (LCIPP) da ONU.

  3. Fomentar a Sociobioeconomia: Criar ecossistemas de apoio com crédito, investimento e assistência técnica para iniciativas produtivas sustentáveis.

  4. Investir em Formação: Capacitar comunidades técnica e politicamente para participação qualificada nos debates sobre clima.

  5. Agir com Urgência: A inação não é uma opção; os pontos de não retorno da Amazônia ameaçam a existência das RESEX e o equilíbrio climático global.

Para Pismel, a principal contribuição do documento é trazer a voz dos territórios para o debate climático. 

“Os extrativistas não são apenas vítimas da crise do clima, mas também parte da solução. A publicação reforça isso e responde à quinta carta do presidente da COP30, que chama a sociedade civil e as populações tradicionais a participar. Se a COP começa e termina com as pessoas, as populações extrativistas não podem ficar de fora.”

O documento reforça o conceito central da ação climática: “começa e termina com as pessoas”, e ecoa as palavras de Chico Mendes: “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”.

📄 A íntegra do Policy Brief está disponível no site do Comitê Chico Mendes: https://www.comitechicomendes.org/policy-brief-cop30

Anterior
Anterior

O que as Reservas Extrativistas nos ensinam sobre Transição Justa

Próximo
Próximo

Angela em Paris: Luz, câmera, ação e… Empate!