Defensora Angela Mendes reafirma o papel fundamental da Amazônia no debate internacional em Festival na França

Angela Mendes representou os povos da Amazônia em debates e exposições que celebram a diversidade cultural e denunciam as ameaças à floresta

Ângela Mendes durante sua fala no Dialogues en Mouvement. Foto: Autres Brésils

As vozes da Amazônia atravessaram o oceano e encontraram espaço de escuta no coração da Europa. Em Paris, a defensora Angela Mendes, filha primogênita do líder seringueiro Chico Mendes, participou do Festival Dialogues en Mouvement, no última dia 12 de junho, uma iniciativa da associação Autres Brésils que reúne artistas, cineastas, escritores e militantes engajados com as lutas sociais e ambientais do Brasil. 

No ano em que Brasil e França celebram uma parceria cultural, Angela levou para o palco do festival as narrativas de resistência dos povos da floresta reafirmando o legado de luta de seu pai e o papel fundamental da Amazônia na crise climática global.

"Neste ano de parceria entre Brasil e França, algumas organizações estão promovendo eventos que fortalecem as narrativas e as vozes da Amazônia", relatou Angela, que esteve à frente de dois momentos no festival. 

Ângela Mendes conecta territórios e histórias, compartilhando saberes ancestrais e desafios contemporâneos da floresta amazônica. Foto: Autres Brésils

Um deles foi a participação em um painel especial sobre os desafios e caminhos da resistência amazônica, chamado “As Vozes da Amazônia”. O outro foi a abertura da exposição “Povos da Floresta”, que retrata a vivência de dois profissionais franceses imersos na floresta acreana, com passagens por Xapuri e pelo Seringal Cachoeira. A mostra nasceu de uma viagem à Amazônia profunda, segundo Mendes:

“Eles conheceram a história do meu pai, foram ao Seringal Cachoeira, fizeram muitas fotos e escreveram um livro. Eles fizeram uma excursão pela Amazônia registrando seringueiros, catadores de coco babaçu, coletores de açaí, enfim, retratando um pouco dessa cultura local”, contou.

Participação constante

“Meu papel foi levar as vozes de quem vive e luta pela Amazônia, de quem está na linha de frente da resistência”, afirma a defensora.

Representando o Comitê Chico Mendes, Ângela Mendes participa do festival como voz ativa da Amazônia. Foto: Autres Brésils

Ao refletir sobre sua passagem pelo festival, Angela destacou a força da cultura brasileira como uma ferramenta de resistência e comunicação:

“Tivemos debates muito bons e filmes incríveis apresentados por lá. A cultura brasileira é muito rica, e o que mais se destaca, em qualquer lugar, é como ela dá um verdadeiro show: promove debates intensos, porque fala diretamente da nossa realidade, que é complexa, feita de muitas misturas, de muitas migrações, de muitos povos”, diz a entrevistada.

Momentos marcantes

Um dos momentos mais impactantes para a ativista foi a presença expressiva das mulheres indígenas no audiovisual:

“A presença das mulheres cineastas indígenas foi a parte mais bela. Elas são cineastas, escritoras, artistas, mostraram sua criatividade e como estão cada vez mais organizadas. Já formaram uma rede de cineastas indígenas, com 90 mulheres identificadas, e isso tem um potencial incrível”, relembra.

Sobre o Comitê Chico Mendes:

Criado em 1988 por militantes, familiares e organizações da sociedade civil na noite do assassinato do líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes, o Comitê Chico Mendes surgiu como guardião de seus ideais e legado. Até 2021, atuou como um movimento social, promovendo a Semana Chico Mendes e o Festival Jovens do Futuro. 

Diante do desmonte da Política Nacional de Meio Ambiente, que afetou violentamente os territórios e suas populações, especialmente as Reservas Extrativistas, decidiu dar um passo estratégico para fortalecer sua atuação em prol do bem-estar social, ambiental, cultural e econômico das comunidades tradicionais. 

Em maio de 2021, após um amplo processo de escuta e diálogo entre membros e parceiros, optou-se pela institucionalização do Comitê Chico Mendes. A decisão representou um marco na trajetória da organização, permitindo a implementação de projetos estruturados sem abrir mão da essência de resistência, expressa nas Semanas Chico Mendes, realizadas desde 1989, e no Festival Jovens do Futuro, promovido a partir de 2020.

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