Quarto dia da Semana Chico Mendes traça estratégias de proteção e afeto contra a violência contra mulheres

A programação foi marcada pela construção de redes de apoio entre mulheres e pela imersão profunda no território da RESEX

Roda de conversa dominou o quarto dia de programação em Xapuri. Foto: Alexandre Noronha

Se a luta pela floresta exige o corpo no território, a garantia de que esse corpo permaneça vivo e seguro foi o tema central do quarto dia da Semana Chico Mendes 2025. Nesta quinta-feira (18), Xapuri amanheceu dividida entre o silêncio respeitoso das trilhas da Reserva Extrativista e a voz firme das mulheres que ocuparam o Salão Paroquial para dizer: “basta!”.

A oficina “Na floresta, no campo e nas cidades: basta de violência contra as mulheres” reuniu sociedade civil, lideranças comunitárias e representantes do Ministério Público não apenas para diagnosticar o cenário alarmante de feminicídio e agressões, mas para desenhar, coletivamente, rotas de fuga e resistência.

O legado do afeto como ferramenta política

Para Angela Mendes, presidenta-executiva do Comitê Chico Mendes e filha primogênita do líder seringueiro, trazer essa pauta para o centro da semana é uma forma de honrar uma faceta muitas vezes esquecida de seu pai: a do diálogo.

Momento foi carregado de emoção. Foto: Alexandre Noronha

“A Semana Chico Mendes é um espaço que, para além do legado que o pai deixa, aquele que a gente já conhece, tem o legado também do falar da paz, do amor”, explicou Angela durante a atividade. “A gente sempre falou muito isso, inclusive na caminhada saiu isso, sobre como ele era o cara do diálogo, do afeto. E para nós é importante trazer esse diálogo.”

A presidenta ressaltou que a estrutura do próprio Comitê reflete essa urgência, sendo hoje sustentada por “uma grande equipe de mulheres que estão à frente”. Para ela, o encontro em Xapuri serve para “debater sobre os grandes desafios que nos cercam e entender também como a gente reage e se organiza para esse enfrentamento”.

Construindo estratégias de sobrevivência

O debate abordou a interseccionalidade da violência: aquela que atinge a defensora ambiental por proteger a árvore e aquela que atinge a mulher por questões de gênero, muitas vezes, violências que se sobrepõem. Angela Mendes foi enfática ao definir o objetivo do encontro: 

“O espaço da Semana é para a gente também construir estratégias sobre todos os tipos de violência, seja violência que acontece contra os defensores ambientais, e agora nesse cenário de extrema violência contra as mulheres”, disse.

A pergunta norteadora deixada pela filha de Chico ecoou entre as participantes: 

Angela Mendes foi uma das vozes que proporcionou que o debate acontecesse. Foto: Alexandre Noronha

“Como é que a gente se prepara, como é que a gente se nutre entre nós, que estamos no encontro, para poder enfrentar essa realidade que tem sido tão cruel e tão violenta?”

Enquanto as estratégias eram traçadas na cidade, outro grupo vivenciava a essência da luta na prática. Das 08h às 17h, participantes realizaram a Imersão na Reserva Extrativista Chico Mendes.

O quarto dia encerrou o ciclo de atividades em Xapuri. À noite, a "correnteza" da Semana Chico Mendes iniciou seu deslocamento para a capital, Rio Branco, onde a programação continua com foco em segurança digital e direitos humanos.

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