Segundo dia da Semana Chico Mendes conecta memória do empate aos desafios da COP 30
Programação uniu a reverência ao passado, com a Caminhada Solene e o Seminário de Memória, à urgência do futuro
Encontro sobre COP fechou a programação do dia. Foto: Kauã Lucas
Se a manhã de terça-feira (16) em Xapuri foi dedicada a olhar para trás e honrar o caminho percorrido, a tarde foi o momento de projetar o horizonte. O segundo dia da Semana Chico Mendes 2025 foi marcado por uma programação intensa que ocupou diversos espaços da cidade, conectando o chão da Reserva Extrativista aos corredores diplomáticos da Conferência do Clima.
O dia começou cedo, às 7h, com a emocionante Caminhada Solene da casa de Chico até o túmulo, onde companheiros históricos como Raimundão e Gomercindo Rodrigues reafirmaram a imortalidade do líder seringueiro. Enquanto isso, o futuro já se fazia presente em outras frentes: às 9h, crianças e adolescentes participaram de oficinas educativas conduzidas pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), garantindo que a semente da consciência ambiental germine desde cedo.
Ainda pela manhã, o Salão Paroquial sediou o seminário “Memória e Legado - Chico Mendes 80 anos: a luta continua!”, um espaço de reflexão sobre as décadas de resistência. Simultaneamente, na Escola Divina Providência, o II Fórum Acreano de Educação do Campo, das Águas e das Florestas (FEACAF) debatia os impactos das mudanças climáticas no estado, reforçando o compromisso da educação com a realidade do território.
O Desaguar da COP 30
Visita ao túmulo foi o chamariz da manhã. Foto: Alexandre Varadouro
No período da tarde, a programação cultural e política se intensificou. O público pôde assistir à exibição do filme “Juruá: Memórias de um Rio”, do Greenpeace.O ponto alto do debate ocorreu na mesa “Juventudes, Povos Tradicionais e COP 30 - o Desaguar”, mediada pela liderança Laiane Santos. O encontro teve como objetivo cruzar as experiências de quem esteve em Belém com a realidade de quem permaneceu na base.
Talita Vasconcelos, do Comitê Chico Mendes, destacou a riqueza dessa composição:
“Essa mesa foi muito importante porque trouxe referências da reserva, mulheres, jovens, representantes do comitê da COP 30 e do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS). Ela permitiu comparar a visão de quem já é experiente em outras COPs com a de quem foi pela primeira vez. Foi um momento de escutar, questionar e nos munir de informações internas e externas sobre o que essa conferência realmente significa para nós.”
"O desafio é a nossa estrutura encaixada nesse processo"
A mesa foi marcada pela fala contundente de Júlio Barbosa, presidente do CNS. Com a autoridade de quem carrega décadas de luta, Júlio foi direto ao apontar o maior gargalo atual das Reservas Extrativistas: a sucessão geracional.
O dia começou cedo, às 7h, com a emocionante Caminhada Solene da casa de Chico até o túmulo e suas lideranças. Foto: Alexandre Noronha
“Eu não vejo a nossa reserva ter muito futuro se nós não tivermos a nossa estrutura encaixada nesse processo”, alertou Júlio, referindo-se à necessidade urgente de engajar a juventude na gestão do território. Ele citou exemplos práticos de educação contextualizada, como a "Escola do Carvão" no Amazonas, onde o aprendizado teórico se alterna com a prática na propriedade familiar, garantindo que o jovem não se desconecte de suas raízes.
Barbosa também enfatizou a importância dos instrumentos legais de defesa do território, como os Protocolos de Consulta Prévia (baseados na Convenção 169 da OIT) e os acordos internacionais, mas lembrou que a eficácia dessas ferramentas depende da organização interna:
“Nada pode acontecer nas nossas comunidades se não houver a consulta a cada um de nós. Mas, para exigir respeito, nós temos que ter disciplina. Se eu não for uma pessoa disciplinada, como vou exigir disciplina de vocês? Assumir a camisa de Chico Mendes exige responsabilidade.”
Velas seguiram o final da manhã. Foto: Alexandre Noronha
Responsabilidade com o sonho
Em um tom emocionado, o presidente do CNS lembrou aos jovens presentes que o ativismo não é apenas sobre carregar um símbolo, mas sobre honrar uma história de transformação.
“Nós não estamos colocando no nosso peito o rosto de uma pessoa qualquer. Estamos colocando o rosto de uma pessoa que foi capaz de sonhar e transformar. E nós não podemos dizer que a mensagem dele não conseguiu ajudar a mudar muita coisa nesse mundo.”
O segundo dia da Semana Chico Mendes encerrou-se com essa convocação à responsabilidade e à união. Como resumiu Júlio Barbosa ao final:
“A gente não precisa inventar novos caminhos. O que a gente precisa é encontrar o melhor jeito para caminhar junto”.