“Levar o nome do Comitê e os ideais de Chico", diz Angela Mendes sobre Global Citizen Now

A presidenta do Comitê Chico Mendes destacou a força das mulheres defensoras da floresta e a urgência de enfrentar os lobbies poluidores

Angela Mendes durante o painel no Global Citizen Now em Belém. Foto: Pedro Vilela/Getty Images for Global Citizen

O Global Citizen Now, encontro internacional que aconteceu em Belém, no Pará, no mês de julho, antecipou parte do espírito que deve marcar a COP30 em 2025. Entre debates, encontros e vozes diversas, Angela Mendes, presidenta do Comitê Chico Mendes, reafirmou a urgência de dar centralidade às populações da floresta nos espaços globais de decisão.

Para Angela, o convite representou mais do que uma participação individual ou um convite para a ONG: foi o reconhecimento da trajetória de resistência que atravessa gerações desde Chico Mendes. 

“Eu fiquei muito feliz de ter sido convidada porque o Global Citizen é um evento grande, né? E aconteceu em Belém também, o lugar que vai sediar a COP30. Reuniu muita gente, tinha um público muito qualificado”, afirmou.

O destaque de sua fala foi a emoção de dividir o painel com lideranças femininas de luta. 

“O meu melhor momento lá foi ter estado compartilhando o painel com mulheres que eu super admiro, como a Claudelice Santos, presidenta do Instituto Zé Cláudio e Maria, que faz um trabalho incrível, e a Vanuza do Abacatal, uma mulher quilombola que luta pelo seu território. Foi muito importante, porque é sempre bom quando a gente tá junto trazendo debates tão necessários”, disse Angela, destacando a força das alianças entre mulheres.

A luta que continua

O Comitê Chico Mendes esteve presente ao evento reafirmando os princípios que orientaram a vida do seringueiro assassinado em 1988: justiça socioambiental, defesa da floresta em pé e solidariedade entre os povos. Trinta e seis anos após sua morte, o cenário global é ainda mais dramático: recordes de desmatamento, secas e enchentes extremas, e uma crise climática que avança em velocidade inédita.

Foi muito importante, porque é sempre bom quando a gente tá junto trazendo debates tão necessários
— Angela Mendes

Nesse contexto, Angela lembrou que grandes eventos internacionais só têm sentido quando permitem que as vozes da base ecoem. 

“Quem tá lá na base sofrendo e tendo os impactos não tem vez, não tem voz. O que a história sempre conta é que quem consegue estar mais próximo são os lobbies das grandes indústrias poluidoras. A gente espera que esse ano esta presença seja das populações tradicionais, contra toda forma de exploração da natureza”, afirmou.

Expectativas para a COP30

Embora a COP30 ainda esteja distante alguns meses, Belém já se tornou símbolo da preparação de um encontro que pode definir os rumos da política climática global. Questionada sobre suas expectativas, Angela foi direta: 

Lideranças femininas na linha de frente da defesa da floresta e dos territórios quilombolas. Foto: Wagner Meier/Getty Images for Global Citizen

“Não tem como não responder que a gente espera sempre que as COPs deem uma resposta para os grandes problemas, principalmente climáticos. O Brasil sempre foi uma referência forte nesse debate, então nossa expectativa é que o país consiga dar um norte”.

Entre as expectativas, ela destacou que a presença massiva de movimentos sociais e ambientais poderá diferenciar Belém das conferências anteriores. 

“A expectativa também é de que muitos movimentos vão estar lá em Belém, vão ocupar Belém. Eu acho que essa COP vai ter esse diferencial: muito movimento de base realizando seus eventos paralelos, trazendo para o centro o olhar de quem sofre os impactos das mudanças climáticas no dia a dia.”

Angela em painel com ativistas, movimentos sociais e representantes internacionais em Belém. Foto: Pedro Vilela/Getty Images for Global Citizen

O sentido de ocupar os espaços

Para Angela, sair do Global Citizen Now significou reafirmar a necessidade de disputar narrativas em ambientes de grande visibilidade. 

“Eu saí satisfeita porque, sendo um evento grande como esse, conseguimos levar para a opinião pública o posicionamento do Comitê Chico Mendes sobre debates importantes. Levar o nome do Comitê, levar os ideais de Chico, isso é muito importante. Faz todo sentido que a gente esteja nesses espaços para ser ouvido”, concluiu.

Sobre o Comitê Chico Mendes:

Criado em 1988 por militantes, familiares e organizações da sociedade civil na noite do assassinato do líder seringueiro e sindicalista Chico Mendes, o Comitê Chico Mendes surgiu como guardião de seus ideais e legado. Até 2021, atuou como um movimento social, promovendo a Semana Chico Mendes e o Festival Jovens do Futuro. 

Diante do desmonte da Política Nacional de Meio Ambiente, que afetou violentamente os territórios e suas populações, especialmente as Reservas Extrativistas, decidiu dar um passo estratégico para fortalecer sua atuação em prol do bem-estar social, ambiental, cultural e econômico das comunidades tradicionais. 

Em maio de 2021, após um amplo processo de escuta e diálogo entre membros e parceiros, optou-se pela institucionalização do Comitê Chico Mendes. A decisão representou um marco na trajetória da organização, permitindo a implementação de projetos estruturados sem abrir mão da essência de resistência, expressa nas Semanas Chico Mendes, realizadas desde 1989, e no Festival Jovens do Futuro, promovido a partir de 2020.

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